Como comprar o primeiro violino?

Você se apaixonou pelo som do violino, na sua playlist só tem violino, você já viu dezenas de vídeos sobre o assunto, mas nunca nem pegou num violino, nem tem ideia de como é a sensação de produzir som nele, muito menos qual o melhor violino.

São muitas opções, muitos termos e você se perguntando: como escolher um bom violino pra mim? Qualquer marca serve ou melhor procurar alguma específica?

Pra te ajudar nessa decisão, vou falar alguns pontos que você tem de considerar pra fazer uma boa escolha, que atenda suas necessidades e sem desperdiçar seu dinheiro. São os seis que acho essenciais: Sonoridade, durabilidade, facilidade de tocar, arco decente, bom estojo e orçamento.

Primeiro ponto

Vamos definir algumas coisas: o que é um violino? É uma caixa acústica que amplifica as vibrações das cordas. Então o material da caixa e o revestimento, como as próprias cordas, influenciam o resultado final. Tem fabricantes que fazem de materiais ruins como madeira laminada, ou compensado: isso não serve pra fazer violino, a não ser que você queira apenas pra deixar pendurado na sala. Compre violino de madeira maciça.

Um bom violino pode durar séculos se for bem cuidado. A madeira maciça não só melhora o som, como também garante a durabilidade do instrumento. Primeiro ponto: sonoridade.

Segundo ponto

Os primeiros violinos construídos (que reconhecemos como “violino”) estão aí até hoje e podem ser tocados:

E estamos falando de uma ferramenta feita quase 500 anos atrás! Você imagina uma ferramenta, com manutenção correta e cuidado, durar 500 anos? Então, pois esse é o violino. Só que para durar tanto, ele precisa ser resistente, por isso é feito de madeira maciça de alta qualidade. Segundo ponto: durabilidade.

Terceiro ponto

O ajuste preciso do seu violino é crucial tanto para a facilidade de uso quanto para a qualidade sonora do instrumento. As cordas do violino repousam sobre uma peça de madeira clara em formato de ponte. Essa peça precisa estar corretamente ajustada por um especialista, normalmente um luthier, para evitar dificuldades ao tocar. Se a ponte não tiver a curvatura e o espaçamento adequados, você pode acabar esbarrando na corda ao lado, o que torna o toque mais difícil e menos preciso.

Não apenas o cavalete, mas todas as peças do violino, incluindo as cravelhas que prendem as cordas, precisam de ajustes artesanais e individuais. Afinar o violino é uma coisa que você precisará fazer todos os dias, por isso é importante o ajuste das cravelhas. Peças de qualidade e bem ajustadas garantem que você não tenha trabalho extra devido a um cavalete mal angulado, uma pestana alta demais ou cravelhas desajustadas. Terceiro ponto: facilidade de tocar.

Quarto ponto

Seu outro instrumento, um tal de “arco”. Sim: ele é outro instrumento, que sofreu muitas mudanças desde a época que inventaram o violino. Ele mudou mais do que a caixa de madeira, viu? Antes ele tinha o formato arcado, como um arco e flecha; depois foi invertendo e ficando mais firme, pesado e longo. Um arco molenga ou sem curvatura não funciona bem; mal ajustado, com crinas desalinhadas também não. Na minha experiência, os arcos de instrumentos mais baratos costumam vir com qualidade insuficiente: não têm curvatura adequada e o acabamento é abaixo do mínimo. Quarto ponto: um arco decente.

Quinto ponto

O estojo: é ele que protege o seu violino e o arco no transporte ou simplesmente pra guardar em casa. Por isso ele precisa estar em boas condições, fechar bem, proteger de eventual chuva, variações de temperatura, não arranhar e não deixar nada arranhar o instrumento, acomodar violino e o arco e ser seguro de não cair do seu corpo enquanto você o carrega. Por isso alças resistentes é fundamental.

Os mais baratos em isopor (EPS, ou poliestireno expandido) duram menos, mas costumam proteger na maioria dos casos. Existem modelos em fibra de vidro que protege mais de impactos, são mais pesados e mais caros mas garantem a integridade do instrumento. Em geral, os estojos até perto de R$ 1000 são de isopor, mas podem ter acabamento melhor que os mais baratos. Um bom estojo em fibra pode durar dez anos ou mais. O meu, que mandei fazer, uso há quase dez anos e já até pedalei com ele, levando minha viola de arco pros ensaios e concertos sob Sol ou chuva, sem afetar a viola em nada. Quinto ponto: bom estojo.

Sexto ponto

Por último, o orçamento. Claro que depende do seu bolso, mas é muito difícil encontrar um violino completo por menos de R$ 1200 em outubro de 2023. Existem ofertas aqui na internet por R$ 500 ou menos, cuidado pois o barato pode sair caro: já fabricam instrumentos de plástico, que não servem pra absolutamente nada pra um estudante de violino, olha abaixo:

Os da empresa Eagle são famosos por fabricarem bons instrumentos de entrada, Mavis e Michael também — os de outras marcas muitas vezes são de madeira laminada, os vendedores não entendem isso e não colocam na descrição do produto ou não sabem responder. Se você quiser comprar na internet de uma dessas três marcas numa loja na internet, lembre do ponto 3: ajuste.

As lojas dizem que os instrumentos vêm ajustados, mas eu conheço pouquíssimas lojas que de fato vendem instrumentos realmente prontos, ajustados por um luthier quando chegam da China.

Uma delas é a HPG musical, que eu já visitei pessoalmente algumas vezes e recomendo aos alunos, além de eu mesmo ter comprado várias coisas lá. Atualmente não tenho parcerias com eles mas eu confio nos produtos que eles vendem, afinal são especialistas em violinos: eles têm violinos de R$ 1000 a R$ 30 mil. Enviam para todo o Brasil, mas o legal mesmo é visitar a loja na Zona Leste e se divertir com as dezenas de opções.

Se você estiver disposto a investir mais, acima de R$ 6000, por exemplo, recomendo ter paciência pois estará atrás de um produto artesanal, que pode ser novo ou antigo, e que é mais fácil encontrar em profissionais que fazem os ajustes nos violinos: os luthiers. Eles revendem instrumentos, restauram instrumentos antigos, reformam, fazem os ajustes de instrumentos novos, e alguns também constroem novos violinos.

Um instrumento encomendado em luthier hoje custa a partir R$ 10.000 e demora alguns meses pra ficar pronto, além da fila de espera que costuma ter. A vantagem de um instrumento encomendado é você pedir as características que você quer, além da sonoridade melhor se compararmos a um instrumento mais barato feito por máquinas, como é o caso desses Eagle.

Uma vez levei um violino simples a uma pessoa com alto poder aquisitivo, que me perguntou se faria diferença ter um violino mais caro: é claro que tem, e um leigo ouve essa diferença facilmente, além de ela ser visível no acabamento. A questão é o quanto você está disposto a investir, e se pode dispor daquele valor também. Ela me perguntou se eu não achava que aquele instrumento é muito pra ela, e minha resposta foi com uma pergunta que mexeu com ela:

“Você gostou do som do instrumento mais simples? Não, né. E achou ele mais bonito que o mais caro? Também não. Toda vez que seu som sair feio no estudo, vai lembrar como o outro era melhor. Ou seja: vai ficar feliz comprando o mais caro? Se você pode pagar, vai fundo.”

Deixa eu fazer um parêntese: não é que um instrumento melhor faça extrema diferença no começo, o que faz MUITA diferença é ser uma qualidade mínima E ESTAR AJUSTADO, além de um arco decente. Conforme vai evoluindo, a necessidade de instrumento melhor vai crescendo.

Farei um post sobre violinos antigos e outro sobre diferentes faixas de preço, o que se pode esperar de um de R$ 2.000, de R$ 10.000 e de R$ 50.000.

Espero que esse texto aqui em seis pontos ajude você a escolher seu primeiro violino. Se tiver dúvidas, escreve aqui embaixo ou me manda um WhatsApp. [clique aqui]

Rodrigo Marin, 18/10/2023

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