Violino: o segredo pra aprender rápido

Como aprender rápido a tocar violino?

Muita gente estuda como hobby, adulto já, tentando realizar um sonho de infância ou adolescência, que é tocar violino. Daí acha que é uma atividade menos importante por não ter pretensão profissional, como se o professor pudesse ser menos qualificado ou seu estudo fosse ser de qualidade inferior.

Eu entendo que você não tenha isso como prioridade e, como tal, não tenha várias horas do seu dia pra se dedicar ao violino. Não tem problema, estou bem acostumado a alunos que estudam apenas por hobby, e eles estão evoluindo muito bem, porque fazem uma coisa que poucas pessoas conseguem.

E isso não é mera frase de feito de marketing, é que realmente é difícil fazer mas eu me empenho em garantir o aprendizado dessa habilidade aos meus alunos, é um aprendizado que é mais difícil do que ensinar como segurar o violino ou onde ficam as notas, mas que facilita todo o seu resto, seja no iniciante ou no profissional. Porque tocar as notas eu te ensino em duas aulas; agora tocar bem, ah, isso leva bem tempo do que duas aulas.

“Tá, Rodrigo, entendi que é importante, mas e quando você vai começar a falar a tal coisa mágica?”

Eu já comecei o processo e você nem percebeu: primeiro, entre no clima e segue comigo, sem pressa. A pressa é uma das piores inimigas do aprendizado rápido, confia em mim.

No dia a dia a gente está sempre reagindo a situações, sempre muito rápido e superficial, porque o nosso mundo está assim rápido e superficial. São centenas de demandas ao longo do dia, cada uma de um assunto diferente, de modo que precisamos dominar dezenas de competências diferentes. E depois os saudosistas vêm dizer que hoje em dia as pessoas estão menos inteligentes…

Daí que essa pressa toda tira a qualidade, a profundidade, o foco. E velocidade de aprendizado tem a ver com dois pilares: constância e foco.

O ideal é pro iniciante é um trabalho muito bem feito e diário, todo dia aqueles 10 minutos. Com o cansaço e falta de disciplina, dá aquela preguiça e costumamos falhar no primeiro pilar (constância).

Já o foco: com a pressa e superficialidade no dia a dia, a injeção de dopamina do feed infinito, vídeos curtos e rápidos, a gente se acostuma a não trabalhar com alta concentração, alta qualidade. E esse é justamente o segundo pilar do meu trabalho, um estudo altamente focado, estruturado, pensado, quase meditativo. Não é nem um pouco fácil, mas vale a pena e te faz economizar muito tempo da sua vida, eu garanto.

Aqui um exemplo do que acontece muito: você pega seu instrumento, coloca no ombro e começa a tocar uma nota no violino, mas fez tudo tão rápido que nem prestou atenção que:

levantou o ombro esquerdo,
os dedos da mão direita estão esticados e
a mão esquerda não está no lugar exato onde deveria.

Viu nada, né? Só queria ouvir logo aquele som que imaginou na cabeça, só que o violino precisa ser bem conduzido, do contrário ele não soa como você gostaria. Precisa prestar atenção em várias coisas, só que não dá pra aprender várias coisas literalmente ao mesmo tempo, não é assim que o corpo funciona.

Eu gosto muito de aviação, e eles usam muitos checklists pra tudo que vão fazer: tal problema, pega o livro e veja quais os itens pra checar. Eu acabei criando vários checklists pra cada passo que estou ensinando, assim você pode acompanhar comigo o que eu vou conferir no seu corpo o que precisa fazer em cada música. Se eu colocar tudo por escrito, você faz ideia do tamanho desse arquivo? Então, eu tenho dentro da cabeça e uso nas aulas.

Mas essa é a parte técnica da coisa, o pilar é sobre mentalidade. Mas eu precisava dessa introdução pra mostrar que a pressa faz você atropelar esses itens da checklist como se não fossem importantes. E esse que é o problema e justamente isso que eu demoro a conseguir ensinar os alunos: a importância da humildade em decorar o checklist e de saber por que cada um está lá (tá, não precisa uma tese sobre cada um, só entender como faz já ajuda).

Muitas pessoas só olham e acham que já entenderam, daí fazem e sai um resultado… não muito bonito, pra ser elegante na definição. E eu volto ao checklist, item 1 e a pessoa achava que já tinha entendido e eu gasto mais tempo ensinando a importância dela cuidar daquele item e como ela não está sabendo fazer bem cada coisa do que efetivamente a pessoa conseguir fazer aquilo.

Todo mundo, tá?! não é um aluno específico, é quase todos, pra ser justo.

Certo, nesse momento você deve estar pensando, mentira que pra tocar aquela musiquinha precisa saber tudo isso! Não dá só pra saber que notas tem e só tocar?

Então, filho, até dá. Igual dá pra preparar um molho à bolonhesa só misturando carne moída com molho de pacote, meia hora, umas mexidas na panela e voilà: temos um molho bolonhesa. Mas vai ficar bom igual daquele restaurante que você gosta? Nem a pau, né! tanto eu quanto você sabemos o tamanho da diferença.

Se você quer só saber tocar umas notinhas, manda ver: pega o violino e sai tocando. Vai ficar com dor, nunca vai conseguir afinar, nem som bonito, mas vai estar tocando as notas todinhas ali. Se isso te satisfaz, pra que fazer aula, não é? Eu só acho, assim, minha opinião, tá, que você quer uma qualidade melhor, uma afinação no lugar, tocar sem dores, sem ficar esbarrando tanto na corda errada, sem uns chiados medonhos que aparecem do nada. Tem gente que toca violino mal assombrado: eu não sei se precisa de aula ou de um exorcista o tanto de barulhos estranhos que ele faz!

Mas quem sou eu pra dizer o que as pessoas devem fazer, não é mesmo? Só que bom, bom mesmo, não tá. Já veio muita gente que maratonou vídeos e vídeos de YouTube de aulas de violino e conhecia os termos etc, várias perguntas alto nível, me fazendo pensar bastante pra responder.

Só que no violino era aquela dificuldade geral que todo mundo tem quando aprende sozinho. E por que isso? Porque entender a explicação é fácil, saber fazer é outra história e adquirir consciência disso custa muito esforço.

Não tem atalho: aprender violino é um trabalho ativo no instrumento e no próprio corpo, consciência corporal, paciência, estratégia de estudo, audição.

Nada disso se adquire vendo vídeos e depois tentando tocar aquela música: você acabou de pular 132 passos, que irão te cobrar em parcelas durante meses.

Por isso, minha conclusão é: para aprender rápido, estude devagar, muito devagar:

Entenda como fazer cada exercício, provavelmente seu corpo não vai pro lugar certo na primeira vez, você precisará usar espelho, se filmar, voltar pra aula pro professor analisar.

Devagar na hora de pegar instrumento, apoiar no ombro, pra não ficar torto sem perceber. Pois os movimentos errados são instintivos e você precisa construir novos gestos, o que leva tempo e trabalho monitorado.

Não dá pra aprender duas coisas ao mesmo tempo, não dá. Consiga fazer uma delas com excelência enquanto a outra tá horrível, suporte esse momento. Eu levo semanas pra conseguir persuadir os alunos sobre esse ponto.

Devagar pra absorver, anote tudo, revise. Gaste tempo hoje economizando tempo futuro. É assim que se aprende rápido!

Rodrigo Marin, 25/10/2023

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